Tão longe, tão perto
Um aluno, certa vez, me perguntou. “Você trabalha ou só dá aulas?” Não havia ironia na questão. Ele queria saber se, além de ter feito mestrado, doutorado, publicações, conferências, disciplinas, eventos e projetos de pesquisa, eu também tinha experiência prática da profissão. Mas estava explícita na pergunta a desvalorização do “dar aulas” sobre o “trabalhar”. Afinal, como se diz, quem sabe, faz (mesmo sem saber fazer) e quem não sabe, ensina (ainda que não saiba ensinar).
O episódio ilustra um pouco da incompreensão mútua entre a vida na academia e a vida no mercado. A primeira é geralmente vista como bucólica, reflexiva, desinteressada (como se não houvesse rankings de produtividade científica). A segunda, dinâmica, pragmática, venal (como se não houvesse ética nos negócios). É a caricatura do filósofo contra a do rentista, e que faz esquecer as tantas matizes que separam esses extremos.
De fato, nossas melhores universidades públicas dependem do imposto pago por empresas que vendem mercadorias. E nossas melhores empresas privadas dependem da mão de obra qualificada e de novas tecnologias oriundas das universidades. Mas ainda estamos longe de um modelo em que empresas doem parte de seus lucros para que instituições de excelência em ensino e pesquisa projetem o futuro. E em que chefes de departamento não vejam como heresia o emprego de seus alunos, laboratórios e equipes de pesquisas na solução de problemas empresariais.
Imagino se esses papéis se invertessem por um dia. Acadêmicos precisando tomar decisões urgentes, impulsionar vendas, gerar empregos e renda. Empresários tendo de dar aulas, emplacar artigos, orientar pesquisas e produzir conhecimento. Talvez assim percebessem o quanto dependem uns dos outros. E o quanto teriam a ganhar ao aproximarem esses dois mundos. Seria como dizer que quem sabe, sabe porque faz; e quem faz, faz porque sabe. E quem não sabe… Bem, na academia ou no mercado, sempre é tempo de aprender.
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